Dividida em seis capítulos, a mostra traz trabalhos do mundo todo e obras imersivas que serão ativadas de forma performática no contexto da programação pública, chamada Conjugações, que conecta vozes e territórios de diferentes geografias

A 36ª Bienal de São Paulo abre ao público em 6 de setembro de 2025, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, após um ano e meio de compromissos e encontros curatoriais em diferentes partes do mundo. O programa público começou em novembro de 2024, com as Invocações, realizadas em quatro localidades: Marrakech, Guadalupe, Zanzibar e Tóquio. Cada etapa reuniu artistas, poetas, músicos e ativistas em performances, debates, rituais e apresentações, discutindo e encenando a humanidade por meio de temas como pertencimento, memória, coletividade, emancipação, interdependência, cuidado, tecnologia e transições. 

Essas experiências funcionaram como um “ritual inicial” que agora deságua na exposição em São Paulo, trazendo histórias e idiomas, sabores e sons, estéticas e ritmos que atravessaram oceanos e fronteiras. 

A Fundação Bienal de São Paulo tem o Itaú como parceiro estratégico Itaú e Bloomberg, Bradesco, Petrobras, Vale, Citi e Vivo como patrocinadores máster. O projeto é realizado com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal. 

Com conceito proposto por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, ao lado dos cocuradores Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, da curadora at large Keyna Eleison e da consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus, esta edição se inspira no poema “Da calma e do silêncio”, de Conceição Evaristo, e tem a escuta ativa, o encontro, a negociação e o respeito como fundamentos da humanidade como prática. A metáfora do estuário, lugar de encontro entre diferentes correntes, espaço de manifestação e coexistência de seres diversos, território de exuberância, permeia uma mostra dividida em seis capítulos, concebidos como fractais e conectados por fluxos e diálogos constantes. 

O capítulo 1 – Frequências de chegadas e pertencimentos nos convida a olhar para o solo, às potencialidades da terra e às vibrações que sustentam a vida. A palavra “humano” tem origem na palavra “humus”, que significa “terra fértil”. Aqui, o pertencimento se manifesta pela relação com o solo, comunidades e a pulsação sutil da existência. Obras feitas com pedras, raízes e pigmentos naturais refletem sobre a relação entre corpo, terra e memória. Pertencer aparece como prática ativa de escuta e reconhecimento mútuo, envolvendo não apenas humanos, mas também rios, plantas e animais. 

O capítulo 2 – Gramáticas de insurgências concentra trabalhos que abordam diferentes formas de resistência à desumanização. Artistas exploram arquivos coloniais, resgatam narrativas apagadas e propõem novas linguagens de luta. Há vídeos e instalações que tratam do impacto do extrativismo, esculturas que reconstroem histórias silenciadas e obras sonoras que dão voz a cantos de resistência. 

O capítulo 3 – Sobre ritmos espaciais e narrações investiga as marcas deixadas por deslocamentos, migrações e transformações urbanas. Mapas, fotografias e filmes registram desde rotas de migração forçada até mudanças sutis na arquitetura de cidades. 

Esculturas e instalações reconfiguram espaços de passagem, enquanto trabalhos de som e luz recriam atmosferas de lugares em constante mutação. 

O capítulo 4 – Fluxos de cuidado e cosmologias plurais apresenta obras que rompem com modelos coloniais e patriarcais de cuidado, oferecendo outras formas de relação com o mundo. Instalações combinam elementos como ervas, água e objetos rituais; performances e encontros coletivos abordam práticas de cura e mitologias indígenas, africanas e asiáticas, ressaltando a interdependência entre ecossistemas e culturas. 

No capítulo 5 – Cadências de transformação, a mudança é vista como condição permanente. Obras cinéticas, trabalhos em constante alteração e trabalhos que reinterpretam tradições culturais exploram a transformação como potência criativa. Algumas peças mudam de forma ou conteúdo ao longo dos quatro meses de exposição, convidando o público a acompanhar processos vivos. 

O capítulo 6 – A intratável beleza do mundo encerra o percurso celebrando a beleza como ato de resistência. Pinturas feitas com pigmentos de terra, fotografias de paisagens fragmentadas e esculturas de materiais reaproveitados mostram que o belo também se encontra no inacabado, no que resiste e sobrevive.

Ao todo, 120 participantes ocupam o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, enquanto outros cinco integram o programa Afluentes, realizado na Casa do Povo sob curadoria de Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay. Desenvolvida em parceria com a Cinémathèque Afrique, a mostra de filmes Fluxos de Imagens / Imaginários, que também faz parte dos Afluentes, está prevista para acontecer em dois países. Além do auditório do Pavilhão, as sessões serão apresentadas no La Friche la Belle de Mai, em Marselha, como parte da Temporada França-Brasil. 

A programação pública, intitulada Conjugações, incluirá debates, performances e encontros, muitos deles realizados em parceria com instituições de diferentes continentes, como 32º East (Kampala); Africa Design School (Cotonou); Afrotonizar (Salvador); Ajabu ajabu (Dar es Salaam); blaxTARLINES (Kumasi); Center for Art, Research and Alliances (CARA) (Nova York); Central Bank Museum (Port of Spain); Festa Literária das Periferias – FLUP (Rio de Janeiro); Fondation H (Antananarivo); Jatiwangi Art Factory (Jatiwangi); Kunsthochschule Weißensee (Berlim); Más Arte Más Acción (Chocó); Metro54 (Amsterdã); SAVVY Contemporary (Berlim); Tanoto Art Foundation (Singapura). 

Outro destaque desta edição é o projeto Aparições, uma iniciativa inédita na história da Bienal de São Paulo, desenvolvida em parceria com a plataforma WAVA. Utilizando tecnologia de realidade aumentada, fragmentos, extensões e ecos das obras da Bienal de São Paulo se manifestam no Parque Ibirapuera e em locais específicos ao redor do mundo, escolhidos pelos próprios participantes desta edição – como as margens do Rio Congo, a fronteira entre México e Estados Unidos, parques urbanos de São Paulo ou cidades na África e na Ásia. Pelo aplicativo, os visitantes podem acessar os trabalhos somente nos locais determinados, criando uma experiência sensorial globalmente acessível. 

O programa de publicações desta edição é um dos mais ambiciosos da história do evento, com quatro publicações educativas – cada uma delas dedicada a uma Invocação –, correalizadas com o The Center for Art, Research and Alliances (CARA). As publicações contam pela primeira vez com distribuição internacional, enquanto, no Brasil, a distribuição é gratuita, com foco em professores e educadores. O programa editorial inclui ainda o catálogo da exposição e uma coletânea de ensaios e poemas que dialogam com os conceitos mobilizados pela mostra. Todas as publicações possuem tiragens em português e inglês. 

Para além dos números e da grandiosidade desta edição, a 36ª Bienal de São Paulo se estrutura como uma travessia: um estuário onde vozes, memórias e gestos vindos de diferentes margens se encontram e se transformam. Ao percorrer o Pavilhão, o público é convidado a experimentar a humanidade como ação, verbo que se conjuga no plural, e a levar consigo a certeza de que todo encontro pode ser ponto de partida para novas formas de viver juntos. 

Acesse a programação completa em 36.bienal.org.br/agenda

36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática 

6 set 2025 – 11 jan 2026 

ter – sex e dom, 10h – 18h (última entrada: 17h30) sáb, 10h – 19h (última entrada: 18h30) 

Pavilhão Ciccillo Matarazzo 

Parque Ibirapuera · Portão 3 · São Paulo, SP entrada gratuita