A Festa Literária das Periferias, a Flup, vai celebrar, no dia 13 de maio, dois grandes escritores negros, Lima Barreto e Machado de Assis, reverenciando a ancestralidade e a sabedoria dos pretos e pretas-velhas brasileiras. O lançamento do livro Quilombo do Lima, que reúne contos de 22 autores e autoras negras inspirados na obra de Barreto, marca a programação gratuita que terá cortejos carnavalescos, atividades infantis, feijoada, mesa de debate com Haroldo Costa e Gilberto Gil e homenagem a Mãe Beata de Iemanjá.
Essa grande festa acontece na Ladeira do Livramento, local de nascimento de Machado de Assis, na Arena Samol, a partir das 10h, e abre a agenda da Flup 23 que se desdobra até o final do ano. O 13 de maio tem uma forte carga simbólica. É o dia de nascimento de Lima Barreto, o dia da dita abolição da escravatura, dia dos Pretos e Pretas- velhas da Umbanda e ainda, desta vez, véspera do Dia das Mães. “Vamos fazer esta celebração para evocar os pretos e pretas-velhas ancestrais, pedindo licença para incluir Lima e Machado, e festejar também os mais velhos e mais velhas que com sua obra e genialidade continuam hoje a nos ensinar o que é o Brasil”, destaca Julio Ludemir, diretor- fundador da Flup.
Com o lançamento do livro Quilombo do Lima, a Flup se despede das comemorações pelos 100 anos de modernismo negro de 2022 para trazer em sua 13o edição o tema “Mundo da palavra, palavra do mundo”, representados por Machado de Assis e Mãe Beata de Iemanjá. O escritor e fundador da Academia Brasileira de Letras, um dos principais expoentes do nosso cânone literário, foi embranquecido pelas elites intelectuais e, na Flup 23, chega como “mundo da palavra”, preto-velho da literatura e cria da Ladeira do Livramento, região da Providência, encruzilhada que é também berço do samba, da favela, da literatura e cultura diaspórica e oral afrobrasileiras.
Mãe Beata de Iemanjá, sacerdotisa de um sagrado “sem bíblia” é a “palavra do mundo” na Flup 23. A Iyalorixá, que também era escritora, mostrou com sua história de vida e sabedoria os frutos das trocas culturais entre Bahia e Rio de Janeiro. Sua atuação foi para além dos muros do terreiro de Candomblé Ilê Axé Omiojuarô, em Miguel Couto, na Baixada Fluminense, e teve forte influência na luta pelos direitos humanos, sobretudo nas questões raciais, de gênero e LGBTQIA+. Mais de vinte Iyalorixás, herdeiras de Mãe Beata, vão se reunir na Flup para relembrar a trajetória da matriarca e reverenciar o seu legado, que fortalece a cultura da oralidade como escrita ancestral para perpetuar saberes literários, sociais e políticos.
A programação começa às 10h, na Praça do Cais do Valongo, com o Afoxé Filhos de Gandhy. Às 11h, a Flup sobe a Ladeira do Livramento com o Bloco Prata Preta, até a Arena Samol, onde haverá apresentação de Axé da sacerdotisa do Candomblé Mãe Glória. Ao meio-dia, começa a ser servida a feijoada dos pretos e pretas-velhas. A Dj Bieta comanda as picapes nos intervalos das atrações. A partir de 14h sobem ao palco as homenagens à Mãe Beata de Iemanjá, com apresentação da jornalista Flávia Oliveira.
A tarde seguirá com a dramatização do conto “Través”, de Luciano Nascimento, às 16h15, oficializando o lançamento do livro Quilombo do Lima, com o selo Editora Malê + Flup. O dramaturgo Márcio Januário, um dos escritores presentes na coletânea, assina a dramaturgia da apresentação. Será o 30o título lançado a partir dos processos formativos da Flup, de onde atribui-se o surgimento da primeira geração de escritoras e escritores oriundos das favelas cariocas, hoje muito atuantes no mercado editorial. Os 22 autores e autoras desta edição estarão presentes para a mesa de autógrafos.
Além de Luciano Nascimento e Márcio Januário, também fazem parte do livro Quilombo do Lima os seguintes escritores e escritoras: Alana Francisca, Alan Miranda, Augusto Dias, Camila de Araújo, Daniana de Souza, Denise Lima, Eduardo Branco, Estevão Ribeiro, Evandro Luiz da Conceição, Jader Moraes, Jeferson Pedro, José Luis Rocha, Juliana Berlim, Michele Silva, Natara Ney, Oscar Paulino, Raphael Ruvenal, Simone Mota, Sueka e Sylvia Arcuri.
ABL na Ladeira do Livramento
A Flup faz mais uma saudação especial aos mais velhos e mais velhas que forjaram a cultura e a literatura brasileiras na mesa de debate “Quem me deu régua e compasso”, com Gilberto Gil, que em 2022 foi eleito para a cadeira 20 da ABL, e o escritor e sambista Haroldo Costa. A mediação será da escritora Eliana Alves Cruz. Na Flup, a Academia Brasileira de Letras chega, pela primeira vez, no chão onde nasceu Machado de Assis, a Ladeira do Livramento.
Direto de Santo Amaro, Dona Zélia do Prato, uma das principais mestras sambadeiras do Recôncavo Baiano, abre a noite, às 18h30, com muito samba de roda. A tradicional escola de samba Vizinha Faladeira, campeã do carnaval do Grupo B da LIVRES – Liga Independente Verdadeiras Raízes das Escolas de Samba, sobe ao palco logo em seguida.
Programação infantil – Não vai faltar atividade para erês no dia dos pretos e pretas- velhas. Enquanto os Filhos de Gandhy aquecem os atabaques na Praça do Cais do Valongo, 10h, as Pretinhas Leitoras, Duda e Helena Ferreira, e um grupo de dez autoras negras de livros infantis sobem a Ladeira do Livramento para ler suas histórias nas casas das crianças que vivem na mesma rua em que nasceu Machado de Assis. Anamô Soares, Daiana de Souza, Dircéa Damasceno, Elisabete Nascimento, Juliana Correia, Juliana Rodrigues, Maíra Oliveira, Simone Mota, Sônia Rosa e Veralinda vão compor uma ciranda de histórias em homenagem ao ilustre escritor negro festejado na Flup 23.
Após a leitura, as crianças e as escritoras juntas farão um cortejo até a Arena Samol, onde será inaugurada a Biblioteca Machado de Assis. Duda e Helena, as irmãs que ficaram famosas com um projeto de incentivo à leitura no Instagram, entrevistam o escritor Henrique Rodrigues, que publicou o livro infantil “Machado de Assis menino”. A narrativa é inspirada nas aventuras de um menino Machado que sonhava frequentar uma biblioteca escolar no Morro do Livramento. No dia 13 de maio, esse sonho será finalmente realizado. No final da tarde, a partir das 18h30, Elis MC comanda o Bailinho dos Crespinhos, com muito hiphop, passinho e coreografias.
A Flup 23 é apresentada pelo Ministério da Cultura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Shell. Tem patrocínio master da Shell, patrocínio do Instituto Cultural Vale e Itaú, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e Globo, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS. O apoio é da Fundação Ford e do Instituto Ibirapitanga. Realização: Suave na Nave, Ministério da Cultura, Governo Federal.

Acesse a programação completa no site: Flup – Festa Literária das Periferias | Brasil