Cestos, máscaras, colares, pulseiras, cuias, lanças… a arte dos povos indígenas é conhecida por sua pluralidade de formas, cores e funções. Diferentes grafismos distinguem povos; da natureza são extraídos o jenipapo e o urucum, matérias-primas para tingimentos corporais e de artefatos; troncos viram instrumentos de caça e de música; pequenas miçangas reunidas tecem desenhos que enfeitam e encantam. 

Toda essa diversidade está em cartaz com a exposição “Maranhão: Terra Indígena”, no Centro Cultural Vale Maranhão, em São Luís. Pela primeira vez, os povos indígenas habitantes do estado serão apresentados por meio de suas culturas materiais, cosmovisões, territórios e línguas. Serão abordados rituais, mitos e heranças orais ligados à produção exposta, bem como aspectos da vida cotidiana dos povos originários Awa Guajá, Canela Rankokamekrá, Canela Apanyekrá, Gavião Kykatejê, Gavião Pykopjê, Ka’apor, Guajajara Tenentehar, Tupinambá, Krikati, Tembé, Krepun Katejê, Akroá Gamella, Kreniê, Tremembé, Anapuru Muypurá e Warao. 

Grande parte da exposição é composta pelo acervo de produção material indígena do CCVM, reunido durante anos de trabalho e pesquisa e diálogo com os povos indígenas do Maranhão. “Desde muito cedo, entendemos a importância de montar uma coleção que pudesse constituir a exposição que apresentamos agora. A cultura material indígena é riquíssima e transcende em sentido, nos propondo olhar de outra forma para o mundo, repensar nossas agências de produção e vivência do cotidiano, entender melhor o valor do território e a preservação da vida. O objetivo da exposição é banhar o visitante com a beleza das proposições estéticas indígenas, fazer com que compreendamos melhor o que é ser indígena, conferindo profundidade à resistência que os povos mantêm há mais de 500 anos”, explica Gabriel Gutierrez, diretor do Centro Cultural Vale Maranhão e que assina a concepção da exposição. 

Para proporcionar ao público essa imersão, a expografia de “Maranhão: Terra Indígena” traz instalações que reúnem instrumentos musicais, de caça, peças usadas em rituais de luto e festas, redes, cestarias, cuias e uma ala dedicada ao vestuário indígena, com 15 representações de vestimentas utilizadas em diferentes momentos no dia-a-dia nas aldeias e produzidas com tecidos, miçangas e palhas; também compõem o espaço colares, pulseiras, cintos, caneleiras, braceletes e testeiras feitas de miçangas e usadas como adornos para rituais, enfeites do cotidiano ou comercializadas. 

  

Compõem a mostra, também, o acervo do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão/CPHNAMA; fotografias de Christian Knepper e da Coleção Fotoetnográfica Carlos Estevão do Museu do Estado de Pernambuco – MEPE; e uma projeção do Mapa Etno-Histórico do Brasil e Regiões Adjacentes do etnólogo Curt Nimuendajú. 

A cultura indígena é um dos mais fortes símbolos da luta dos povos originários pela preservação de sua história, e atravessa o tempo e o território brasileiro. Promover a realização de uma exposição sobre esse tema, no Nordeste, financiada pela Lei Rouanet, reafirma o compromisso do Governo Federal com essa agenda de resistência. Que eles ocupem cada vez mais os nossos espaços de pensamento crítico, de forma que nunca mais tenhamos um país sem a presença e participação ativa daqueles que representam nossas origens, reforça Henilton Menezes, secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural do Ministério da Cultura. 

Produção audiovisual indígena maranhense é destaque 

Uma parte da exposição apresenta cada um dos povos por meio de textos escritos por representantes das etnias ou articuladores de contatos. Para ilustrar o que será lido pelos visitantes, somam-se aos artigos peças de indumentárias, fotografias e curtas-metragens produzidos pelo CCVM, como Elas – as Mulheres Krikati, WYTY: Os Cantos de Resistência Gavião Pykopjê e Os Warao de Upaon-Açu. 

Mais cinco documentários de três povos maranhenses – Ka’apor, Awa Guajá e Guajajara – serão exibidos na exposição. Os filmes foram realizados por Guardiões da Memória formados pelo Museu da Pessoa com patrocínio do Instituto Cultural Vale. As obras são fruto do projeto Vidas Indígenas Maranhão, que capacitou jovens dos respectivos povos na linguagem do audiovisual e realizou ações de preservação e divulgação de histórias de vida da comunidade. 

Maranhão: Terra Indígena fica em cartaz até 17 de fevereiro de 2024. O Centro Cultural Vale Maranhão está localizado na Rua Direita, nº 149, Centro Histórico de São Luís, e é aberto à visitação de terça a sábado, das 10h às 19h.