Um dos bens culturais mais importantes do Espírito Santo, a Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, Serra, e seu anexo, a antiga residência dos Jesuítas, ganhou projeto de restauro e readequação, tornando-se um dos únicos monumentos capixabas remanescentes do século XVII, a ser usado como espaço cultural, turístico e devocional. Tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), está entre os principais símbolos da presença jesuíta no Brasil.

A obra representa um investimento de R$ 10 milhões, com patrocínio do Instituto Cultural Vale e da EDP, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e do edital Resgatando a História, do BNDES, além de apoio da Biancogrês. Com duração de dois anos, o projeto de restauro foi baseado em estudos históricos, arquitetônicos e arqueológicos. O monumento, antiga missão Jesuítica, recebeu novo uso com a implantação de um museu interpretativo, além de restauros das imagens, paredes, quadro, esquadrias, piso e madeiramentos do telhado.

O projeto incluiu, ainda, café, loja, acervo de artistas capixabas, galeria para exposições temporárias, ações educativas e capacitação dos artesões para produção dos produtos para a loja. Passou a contar, também, com acessibilidade, placas de sinalização e conteúdos traduzidos em inglês e espanhol. O trabalho de museologia e expografia, deixou-o interpretativo, com papel educativo e de entretenimento.

Planejado para dar ao monumento uma linguagem nova e mais comunicativa, o Centro de Interpretação Aldeia de Reis Magos permitirá ao público conhecer melhor a história dos jesuítas no Espírito Santo e suas missões pelo Brasil. A igreja se tornou uma verdadeira imersão histórica e de fé, com descobertas artísticas da época da missão e novo mobiliário litúrgico.

Resumo histórico

A missão dos Reis Magos começou por volta de 1580, mas seu estabelecimento foi autorizado em 1585, pelo padre José de Anchieta, superior dos jesuítas no Brasil. Ela esteve sob posse da Companhia de Jesus até 1759, quando a Ordem foi expulsa do Brasil. Nos anos seguintes, foi gerida pelo Estado e chegou a abrigar a Câmara Municipal e outros órgãos públicos.

Valorização da cultura do Espírito Santo

Para o diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto, investir na valorização do patrimônio histórico, material e imaterial, é preservar memórias, fortalecer identidades e contribuir para a educação. “O restauro do conjunto arquitetônico dos Reis Magos é uma iniciativa que se conecta à atuação do Instituto Cultural Vale e da Vale para o fortalecimento da cultura do Espírito Santo, ao aproximar a história capixaba das novas gerações, promover atividades de formação, dialogar com artistas locais e, assim, potencializar o desenvolvimento sociocultural”, destaca.

Por Dentro do Restauro

A recuperação do valoroso símbolo do Brasil Colônia passou por um trabalho criterioso que envolveu estudos do patrimônio histórico, projetos museográficos e adequações necessárias para o uso contemporâneo do monumento, incluindo a acessibilidade e conteúdos em inglês e espanhol, além de deixar o local seguro com a instalação de equipamentos de segurança interligados à central de guarda da Prefeitura da Serra, e do SPDA, determinado pelo Corpo de Bombeiros.

Todo o espaço museal e a Igreja foram climatizados. No templo, a refrigeração foi feita pelo solo, com grelhas de madeira, quase imperceptíveis, protegendo o monumento de danos à estética. O monumento também se tornou acessível, passando a ter um só nível, as elevações laterais foram retiradas e na antiga residência foram instaladas plataforma elevatória e rampas, além da inclusão de tradutor em libras nos vídeos, de placas táteis e banheiros acessíveis.

Sobre o acervo, que contou com a restauração da imaginária de Reis Magos, destacam-se as ricas representações das imagens de Santo Inácio de Loyola, do século XVII, do Menino Jesus e uma imagem de vestir, todas de séculos passados. Também foram produzidas peças como o símbolo jesuítico, elaborado em folha de ouro representando o sol, com a marca e o emblema dos jesuítas, que ficará na entrada do museu.

Durante o restauro do monumento foram feitas novas prospecções estratigráficas, que consistem na remoção da camada até chegar à pintura mais antiga, revelando trabalhos artísticos no púlpito, no arco cruzeiro da igreja e em um nicho na entrada. Essas descobertas têm valor imensurável para a história e a arte do Brasil da época colonial.

Outro item importante foi o restauro do retábulo do altar-mor. Entalhado em madeira, de grande valor artístico, ele fica na parte posterior do altar, emoldurando a obra “Adoração dos Reis Magos”, do jesuíta Belchior Paulo. O retábulo, até então visto apenas na madeira, de forma diferente do seu conceito e arte, caracterizando falso artístico, passou a ter elementos em douramento, depois que o estudo apontou vestígios de ouro.

O retábulo tinha também policromias, mas nas pesquisas não foram identificadas todas as cores e pigmentos. Por esse motivo, não foi feita a reintegração policromática. Mas, ao chegar perto, é possível visualizar cores antigas. Assim, ele está sendo apresentado como era em 1701, período de sua possível inauguração, embora alguns estudiosos achem que a data poderia ser de uma reforma, já que a norma dos jesuítas era inaugurar as igrejas com o retábulo, onde eram realizadas celebrações eucarísticas.

Seguindo o conceito de sustentabilidade do Instituto Modus Vivendi, foram inseridos no projeto um café e uma loja no monumento. O café, nomeado Café dos Reis, teve localização estratégica, com deck externo e belíssimo piso de ladrilho hidráulico, produzido a mão, lembrando o pôr do sol local. Recebeu, ainda, um quadro de quatro metros em arte Naif, da artista Angela Gomes, e poderá ficar aberto após o fechamento do museu, atraindo turistas e moradores, incentivando que novos estabelecimentos sejam abertos no entorno. O local conta com contêiner com banheiros também acessível para o uso externo.

A Igreja dos Reis Magos

A Igreja dos Reis Magos passou por criterioso processo de restauro e adaptação litúrgica. Foram restaurados o banco, os objetos litúrgicos, o retábulo, o quadro Adoração dos Reis Magos, do pintor Belchior Paulo, e o púlpito. Respeitando a história e a arquitetura também foram adquiridos mobiliários litúrgicos. A mesa do altar, o ambão, a cadeira da presidência, o tabernáculo para os Santos Óleos e o Santíssimo. As peças foram confeccionadas em madeira macanaiba maciça.

Centro de Interpretação

O Centro de Interpretação Aldeia de Reis Magos foi planejado para dar ao monumento uma linguagem nova, mais comunicativa, que permitirá ao público conhecer melhor a história da passagem dos jesuítas pelo Espírito Santo e dos aldeamentos do Brasil. Desenvolvido para a antiga residência jesuítica de Reis Magos, será educativo, artístico e se manterá fiel à história da passagem dos religiosos da Companhia de Jesus, sem perder a referência das demandas do mundo moderno.

Espaços do Museu Interpretativo

Recepção

Espaço de acolhimento, a Recepção traz na entrada a frase de quase cinco séculos, do criador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola: ‘Se pretende consertar o mundo comece por si mesmo”. A mensagem mostra a importância da reflexão, do conhecimento e do respeito a cultura local, presentes no conceito dos Jesuítas. O espaço, com imagens antigas, arte contemporânea e sonoplastia transporta os visitantes para a história, impactando-os logo na chegada. Nesta e na sala seguinte, a do Pertencimento, a sonoplastia se destaca. Após processo de pesquisa, gravação, mixagem e masterização são exibidas três horas de músicas.

Sala de Pertencimento

A sala traz o semblante do monumento refletido em todos de pessoas de Nova Almeida por meio de fotos. Em estúdio montado no espaço foram feitas sessões de fotos, pelo fotografo Edson Chagas, incumbido de traduzir o semblante de 30 pessoas com vínculo afetivo com o monumento, selecionadas por pesquisa realizada pela coordenadora do projeto e responsável pelo conceito do museu, Erika Kunkel. “Este espaço potencializa o vínculo da comunidade com o monumento, trabalhamos para trazer sua história para o museu, além de fortalecer o pertencimento afetivo com o local. Queremos que os visitantes sintam, por meio das fotos, que o monumento é vivo, passou por gerações e se conecta com o povo”, explica Erika.

Sala da Arte Indígena

Será ocupada por elementos que contam a história dos indígenas da região. Reúne objetos arqueológicos encontrados em Reis Magos e em outras aldeias capixabas.

Sala Indígena

Em realidade virtual, no espaço, o visitante terá uma experiência de navegação da época da missão, nos séculos XVI e XVII. Ela traz duas canoas com cinco lugares, cada, onde os visitantes se sentam, colocam óculos de realidade virtual e são convidados a fazerem uma viagem no tempo.

Espaço do Aldeamento

Apresenta as missões jesuíticas, que ocuparam locais onde hoje existem cidades. Em parede de 23 metros, foram colocados nichos com reproduções das fachadas dos principais templos jesuíticos do Brasil. Elas foram confeccionadas pelo artista plástico Bruno Castelo, em terracota, matéria-prima utilizada nas confecções dos templos.

Sala do Patrimônio Arquitetônico

O espaço educativo traz maquete digital que apresenta a história do local, do início da missão até os dias de hoje. Também ficarão expostos elementos construtivos como uma parede de pau a pique, outra de pedra com ostra e cal, além dos únicos objetos remanescentes da antiga construção da arquitetônica. Num projetor com excelente visibilidade, em oito minutos, será contada a história de Reis Magos.

Sala dos ofícios

Apresenta os ofícios dos indígenas, revelando, por exemplo, que em Reis Magos havia a maior produção de algodão entre as aldeias da região. Eles chegaram a produzir tecidos e presenteavam os visitantes com eles. Para ilustrar, foi colocado uma roca de fiar e uma rede em buriti, feita pelas mulheres indígenas, e um tipipi, instrumento onde era extraído o sumo da mandioca. No espaço tem, ainda, projeção de vídeo de uma plantação de algodão, do plantio à colheita, em forma de arte, para que os visitantes tenham a sensação de estarem imersos nela. Completando a imersão, uma obra da artista Kyria Oliveira, remete ao trabalho feito com as mãos.

Espaço dos Jesuítas/Santo Inácio de Loyola

Na parede do andar superior é contada a história da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em 1534, liderada por Santo Inácio de Loyola.

Torre Sineira

Pela primeira vez, a Torre Sineira estará aberta à visitação. No espaço há sons e textos interagindo com os visitantes, numa experiência sensorial única. Fones de ouvido estão disponibilizados para reproduzir os sons que os sinos tocavam na época, comunicando à aldeia uma variedade de eventos: dos tons fúnebres e festivos até chamadas para a missa e outros avisos importantes.

Pátio

No Centro de Interpretação, o espaço se manteve como local principal e nele foi instalada imponente obra do escultor Vilar, denominada “O Tempo”. Ela ocupa a parte central do gramado com oito placas de granito e traz, em baixo relevo, as constelações que orientavam os indígenas nas colheitas, pesca e plantações.

Sacristia

Fica na parte interna do museu para que possa ser visitada durante o dia. Nela as pessoas podem conhecer e apreciar um arcaz e uma pia em pedra da época dos religiosos da Companhia de Jesus, entre outros. Nos horários de missa, o espaço será fechado para que o padre possa fazer uso litúrgico do local.

Acervo permanente

Em exposição permanente, os monumentos trarão obras dos artistas plásticos capixabas Bruno Salvador, Luciano Feijão, Kyria Oliveira, Rosindo Torres e do renomado artista e professor, José Carlos Vilar. Os trabalhos se somarão à presença, no local, da inestimável obra do primeiro artista plástico do Brasil, o religioso jesuíta Belchior Paulo, que teve sua passagem por Reis Magos em 1596, data em que fez a pintura. A tela de grandes dimensões foi restaurada trazendo, entre outros elementos importantes, o real semblante de Nossa Senhora.

Auditório

O Centro de Interpretação conta com espaço exclusivo para ações educativas, palestras, lançamentos de livros e outros. Ela comporta 30 pessoas sentadas e está sendo entregue com cadeiras e equipamentos de sonorização. As ações educativas estarão presentes no Centro de Interpretação. Para a coordenadora do projeto, Erika Kunkel, é importante que os capixabas conheçam essa história e que o local passe a ter função educadora.

Sobre o Resgatando a História

O Resgatando a História é uma ação conjunta entre o BNDES, AMBEV, EDP, MRS, Instituto Neoenergia e Instituto Cultural Vale. Por meio dela, viabilizará o apoio a 29 projetos de restauro e revitalização do patrimônio histórico nacional escolhidos por meio de uma seleção pública. O BNDES investe continuamente na preservação do patrimônio cultural brasileiro, norteado pelo objetivo de valorizar a memória do país e potencializar a capacidade do patrimônio cultural de gerar desenvolvimento econômico e social.

Desde 1997, ano em que iniciou sua atuação nessa cadeia produtiva, destinou mais de R$ 900 milhões a projetos de preservação. Ao todo, são cerca de 400 monumentos contemplados, de naturezas variadas, incluindo sítios arqueológicos, heranças arquitetônicas do período colonial, bibliotecas, teatros e museus tecnológicos, localizados em todas as regiões brasileiras.

Horários de funcionamento do Centro de Interpretação Aldeia de Reis Magos:

Igreja de Reis Magos:

Todos os dias – das 09h às 17h30

A abertura dos agendamentos para celebrações será divulgada pela Paróquia local.

Centro de Pertencimento:

Segunda – Fechado

Terça a domingo – das 9h30 às 17h30

Sala dos Indígenas

Horários das sessões: 10h, 10h30, 11h,14h, 14h30, 15h, 15h30, 16h, 16h30

A entrada é permitida somente com acompanhamento do monitor.

Valor da entrada

  • R$ 10,00 inteira
  • R$ 5,00 meia-entrada

Documentos necessários

  • Crianças e jovens de 6 a 12 anos: documento original de identificação com foto e data de nascimento.
  • Estudantes de escolas particulares e universitários: Carteira de Identificação Estudantil (CIE) conforme modelo nacional padrão.
  • Moradores do bairro de Nova Almeida: comprovante de residência
  • Portadores da carteira de Identidade Jovem.
  • Professores da rede privada de ensino: contracheque e documento de identidade com foto.

Gratuidades

É obrigatória a apresentação de documento pessoal que comprove o direito à

gratuidade ao entrar no museu.